domingo, 27 de maio de 2012

O RPG entre o entretenimento e a arte


Por Piatã Müller em 15 de Maio de 2012

Há poucas coisas nas quais todos os seres humanos entram em comum acordo. Uma delas é a busca pela felicidade. Todos nós queremos algum dia encontrar a felicidade, buscamos ela durante toda a vida na esperança de encontrá-la antes que esta se acabe. Aristóteles falava sobre o BEM de cada coisa. Segundo ele, o BEM do doente, é a saúde; o Bem do pobre, é a riqueza... e assim por diante. E dentre todos, há um Bem Maior, que é a Felicidade.

O problema começa quando esquecemos que somente podemos encontrar a Felicidade agora, não é algo para o futuro. A felicidade somente pode ser vivida no presente. Ao esquecer disso, nos condenamos a nunca encontrá-la, e na falta dela, passamos a aceitar outros substitutos. Quais são eles? Há dezenas, mas alguns dos mais comuns são prazer, conforto e diversão. É nesse momento que chegamos ao Entretenimento.

Se considerarmos através de um processo lógico que cada coisa no universo tem a sua razão de existir, pelo simples fato que se não houvesse razão, não existiria... podemos começar a entender que o Entretenimento e a Arte existem por necessidades específicas, e que por se tratar de coisas diferentes, atendem a necessidades diferentes.

O entretenimento é fácil, rápido, ligeiro. Ele nos descansa, e podemos assimilá-lo sem muitas dificuldades. Ele nos dá sem exigências aquilo que acreditamos precisar: prazer, conforto e diversão. E na realidade, não há nada de errado nisso, tem a sua devida importância. Mas não podemos cair no erro de acreditar que determinados tipos de expressão são arte, quando na realidade foram feitos apenas para divertir... ou às vezes, nem isso... às vezes é somente para “entreter” mesmo.

A arte cumpre com outro papel dentro de uma sociedade. Um papel muito mais profundo. Através da arte educa-se um povo, forma-se uma cultura, constrói-se uma civilização. Através das mais formidáveis expressões artísticas resgata-se o passado, registra-se o presente e se adivinha o futuro. A arte é um caminho que indica um destino que ainda não alcançamos, mas que um dia deveremos alcançar. A arte é uma trilha de evolução para o artista, mas também para o espectador.

No auge das grandes civilizações sempre houveram grandes artistas retratando de maneiras diferentes as mesmas ideias grandiosas que guiaram a humanidade até seus momentos de glória. Esses artistas nunca conceberam a arte como sendo algo para si mesmos. E muito menos pensaram que haveria motivo em simplesmente fazer arte “porque sim”, sem motivo. Para um Da Vinci, Shakespeare ou Bach, que são alguns dos maiores artistas que temos conhecimento, somente fazia sentido fazer arte em função de uma NECESSIDADE.

Essa Necessidade é de caráter histórico e social, sempre diz respeito a toda uma sociedade. A arte tem o poder de falar a Verdade de forma que todos possam concebê-la, ainda que não consegamos reproduzir em palavras o que ela nos disse. E esses grandes artistas se aproveitavam desse poder para falar verdades que precisavam ser ditas. Hoje sabemos, milhões de pessoas ouviram suas mensagens.

Por se tratar de uma mensagem, a arte propriamente dita, não é feita para agradar ao público, e sim para transmitir-lhe o que lhe é mais necessário. Isso, em um primeiro momento, pode agradar ou não.

Quando olhamos deste ponto de vista, vemos que atualmente faz-se pouca arte e muito entretenimento. Todos nós devemos nos divertir e de preferência que seja juntos! Mas seria mais produtivo se soubéssemos de conceitos mais elevados sobre o que é a arte e o que ela poderia representar na nossa vida.

Agora pensem... o RPG, por natureza, é puro entretenimento. É feito para divertir. Ele cumpre a missão quando todos saem da mesa satisfeitos, pois passaram 8 divertidas horas em torno de uma mesa e nem sequer viram o tempo passar, esqueceram-se de comer e de dormir. Mas tudo que é elevado a padrões fora do comum, principalmente no âmbito da criatividade, torna-se arte.

Portanto, uma bela narrativa que inspira os jogadores a encarnarem como nunca os seus personagens, uma descrição precisa que não deixa lugar a dúvidas e uma interpretação de um personagem único podem se transformar em uma forma de arte. Isso significa que mesmo inconscientemente é possível que aquela história sirva como aprendizado para algo necessário na vida de cada participante daquele grupo, contribuindo de forma efetiva e prática para a sua vida pessoal.

Fonte: Portal RPG Online

Um comentário:

  1. Excelente post. Aristóteles é sempre uma boa referência para conversarmos sobre rpg, felicidade e arte. Espero outros textos como esse.

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