Enquanto navegava por um fórum de vampiro a mascara na qual participo, notei um texto "ao relento" por lá. Decidi então compartilha-lo por aqui, espero que agrade.
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Havia sangue nas pedras do balcão...
Isso era raro, não porque significava que um assassinato ocorrera ali - Fulk geralmente se alimentava ali em noites calmas - mas porque significava que Fulk fora desleixado em seu jantar. E quando Fulk o Orgulhoso, um dos mais impertinentes de todos os Cainitas do jovem reino da França, era desleixado em seu jantar, então alguma coisa realmente estava errada.
Isso era raro, não porque significava que um assassinato ocorrera ali - Fulk geralmente se alimentava ali em noites calmas - mas porque significava que Fulk fora desleixado em seu jantar. E quando Fulk o Orgulhoso, um dos mais impertinentes de todos os Cainitas do jovem reino da França, era desleixado em seu jantar, então alguma coisa realmente estava errada.
Roland entrou no balcão de pedra manchado e examinou a bagunça. Fulk, é claro, não estava ali para ser encontrado, provavelmente embaraçado com sua falta de controle. Roland podia ver em sua mente agora: Alguma camponêsa ou outro provavelmente pegou os olhos de Fulk, e ele não exitou em fazer algo apressado. Franzindo as sombrancelhas Roland fez uma nota para checar os empregados da casa para ter certeza de que nenhuma mulher estava faltando. Quanto a Fulk, ele retornaria pela manhã, sem dúvida cheio de arrependimento da horrível bagunça causada, provavelmente trazendo a Roland mais um cão de caça ou águia como indenização. Enquanto isso, o tolo provavelmente estava nas florestas, rasgando suas roupas (o que inevitavelmente produziria mais um ato de repugnância própria) e assustando os camponeses locais. Nada viria disso, é claro, mas no meio tempo, era um aborrecimento.
O Lorde de Champtocé suspirou, e gesticulou para um servo que limpasse a bagunça. Obedientemente, um pequeno, pálido homem uniformizado como servo de Roland, com um balde enlameado em sua mão, moveu-se em direção ao balcão para lidar-se com o sangue esparramado. À distância, trovões murmuravam uma denúncia, mas Roland estava relutante em apostar que a tempestade seria forte o bastante para limpar as pedras. Roland não gostava de deixar nada para o acaso, desde sua roupa até sua política. Ele foi forçado a aceitar as palavras de outros quanto a sua aparência esses dias - espelhos não eram seus amigos por séculos, não desde o seu Abraço - mas em todas as outras coisas seu controle era absoluto. À oeste, a lua estava preguiçosa em descer junto ao horizonte. Mais próximo ao castelo, alguma besta deixou seu abrigo e trovejou através das florestas. Com o acordar da criatura, pássaros agitaram-se brevemente sobre a copa das árvores.
Com uma carranca, Roland virou-se para a escuridão da câmara da torre. Ao sair do alcance da luz da lua entrando na escuridão à qual estava acostumado, ele ouviu apenas o ocupado servo jorrando água no sangue já bem molhado.
A alvorada chegou, como estava habituada a fazer, mas Fulk não aparecera ainda. Roland esperou ao pórtico até quase o último instante, mas antes que Fulk aparecesse, os raios do sol nascente forçaram o Lorde feudal de volta ao seu dormitório. Ele deixou ordem para que seus servos (que, tendo dividido com ele sua vigília, pareciam mais sonolentos do que era de hábito) dessem qualquer e todo auxílio a Fulk caso a necessidade aparecesse, depois se retirou.
Ao pôr-do-sol, Roland se levantou. Os servos lhe disseram que não havia notícia de Fulk. Um pouco preocupado, mas principalmente raivoso, Roland mandou mensageiros às vilas próximas para perguntar aos camponeses se eles tinham novidades da criança perdida. Satisfeito em esperar até que os mensageiros retornassem, Roland desceu para que pudesse cear. Pelo menos pelas próximas horas, o problemático Fulk desapareceria de sua mente assim como desaparecera de vista.
À meia noite os mensageiros retornaram, mas nenhum deles com notícias do Toreador desaparecido. Pela primeira vez Roland se preocupava ansiosamente. Ele havia acolhido o pequeno tolo, essencialmente criando-o como príncipes vivos criam seus filhos, como favor para o Senhor do pequeno tolo. Por alguma razão, Severin estranhamente era amigo do excessivamente manhoso Fulk, e não ficaria nada agradecido se alguma coisa acontecesse à sua criança. Com certeza, as repercussões seriam mais sociais que militares ou físicas - enquanto que respeitado por sua perícia na pintura, Severin não era exatamente digno de medo. Ainda assim, Roland se arrependeria se tivesse que procurar mais alguém que o retratasse a óleo, caso sua relação com Severin fervesse sobre isso. Encontrar outro artista do calibre do Toreador tomaria décadas.
Carrancando, Roland se viu sendo levado de volta pelos seus passos ao balcão no qual Fulk havia cometido seu pequeno "acidente". A visão da floresta abaixo estava, como sempre, magnífica. Roland, como sempre, a ignorou. Marchava, ponderando o que poderia ter acontecido. Fulk raramente deixava o embaraço interferir em seu conforto, Roland aprendeu aquilo muito bem, por isso não via razão para que o jovem vampiro já não tivesse retornado há tempos. Procurando alguma pista, Roland novamente examinou as pedras do balcão, procurando por o que ele não sabia. Ele encontrou sangue.
O servo o qual ele havia mandado limpar a noite passada obviamente não fizera um bom serviço, e Roland resolveu punir o homem. De qualquer maneira, fora nesse momento que ele descobriu o segundo distúrbio em sua rotina normal: O servo estava desaparecido. Quando perguntados, nenhum dos outros servos se lembrou de ter visto o homem de rosto empastelado desde algumas horas antes do nascer-do-sol. Terminando suas tarefas, ele simplesmente se retirou dos solos de Champtocé.
Roland não recebeu as notícias bem. Ele gastou a maior parte do resto da noite metodicamente procurando pelo servo desaparecido através do castelo, furioso todo o tempo, os outros servos sabiamente mantiveram-se afastados de seu mestre enquanto ele patrulhava seu refúgio, mas não muito longe, pois ele chamando por eles e eles, estando fora de alcance, não responderiam. As consequências disso, eles sabiam, seriam horríveis.
Eventualmente e misericordiosamente, a noite acabou. Roland mais uma vez retornou ao seu quarto escuro e bateu as portas ao entrar. Servos atentos ainda puderam ouvir seus útimos mandamentos, que as manchas de sangue fossem limpas do balcão até o pôr-do-sol, e depois o som de uma pesada cavilha se encaixando no lugar.
Dizer que Roland estava surpreso aquela noite ao entrar no balcão fatal seria culpar-se de atenuar a verdade. Apesar de seus desejos expressos, as manchas de sangue remanesciam. "E quem" ele gritou aos céus em sua raiva, "é responsável por esse ultraje?"
"Eu sou, meu senhor," chegou a voz do servo desaparecido de dentro da torre. Roland se virou, as presas descobertas com o choque.
O homem permanecia ali, pálido e sorridente. Ainda vestia o uniforme que o caracterizava como servo de Roland, mas era óbvio que fazia isso como forma de desprezo. Havia sangue descendo pelos cantos de sua boca, e algum já seco em seu cabelo. "Eu tenho más notícias para reportar. Meu senhor Fulk não retornará esta noite," disse o servo, "mas, meu senhor, eu suspeito que você já sabia disso."
"Você." Retrucou Roland tomando um único passo em direção ao traidor; o homem não hesitou nem recuou. "Você o matou."
"De fato." Reverenciando levemente. "Ele era consideravelmente fútil, sem mencionar tolo e arrogante."
Roland franziu com aquilo, e tomou mais um passo à frente. "Eu estou curioso, contudo, em porquê você deixou o sangue para eu encontrar, porquê você fez sua culpa tão óbvia?"
O homem deu de ombros. "Porque existem coisas mais importantes em jogo do que minha fuga, meu senhor. Porque com a morte de seu aprendiz Fulk - o qual você é honrado em reportar - Severin do Toreador perderá muito de sua amizade que ele tinha pelo seu clã, Magistral Roland. Ele é um homem, influente, e sua astúcia em afeições vai alterar a mente de muitos outros. Observe os feitos da noite passada ecoarem por anos de hoje, e assim sendo na Iberia e Itália, meu senhor.
Quanto à minha parte nisso, eu fui instruído para fazer o que fiz e então remanescer para trás para ser capturado. Desse modo, você é certo de saber a verdade - e conhecerá o medo."
"Medo?" Roland parecia espantado. "Você deve estar louco."
O homem sorriu, como se dizendo que sua sanidade pouco importava nessa noite. "Medo. Pois se um servo pode ser capturado sob seus olhos, Abraçado, feito Autarkis - quem está para dizer que não acontecerá novamente, e novamente, até que uma noite nós o destruamos? Ou será que você preferiria saber que tem traidores lhe servindo, mas não saber aonde? Sua casa se tornará então sua prisão, meu senhor. E entretanto, enquanto pondera sobre isso, você cometerá erros - erros pelos quais nós estaremos observando."
Rosnando, Roland tentou alcançar para despedaçar o servo traidor, mas com um rugido distante o homem explodiu em chamas. Lamuriando, desmoronou-se em uma pilha de cinzas em meros momentos, e Roland foi forçado a recuar para escapar do ardor das chamas. Quando o fogo morreu nada restou do traidor que pudesse servir como evidência, ou mesmo como troféu.
Impassível, Roland fitou o minúsculo monte de pó, então, infinitamente deliberado o chutou. Flocos do que havia sido um leal servo dispersaram com a brisa, deixando o balcão em direção à noite. Acima, algumas nuvens brevemente abrigavam a lua, e depois continuavam sua rota. "Alain," chamou o Lorde de Champtocé por seu mais fiel servo, "há mais bagunça no balcão. Eu quero que você cuide disso pessoalmente."
"Certamente, meu senhor," disse o pálido e sorridente Alain, emergindo da escuridão da câmara...
Traduzido do original:
"Centuries until Dawn: A Tale of the Long Night"
Os mais leais servos são leais até a primeira traição. Depois aprende que lealdade é tão relativa quanto o tempo para os imortais. Muito interessante o conto
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