segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Mutantes & Malfeitores + The Authority: Boa pedida

Na opinião de nosso parceiro Bruno Immortal, The Authority é a melhor HQ sobre super-heróis, e uma das diferenças em relação aos outros se dá pelo fato de ser um grupo de super personagens que decidem proteger a terra acima de tudo e de todos, sem "frescura".


Com as suas palavras de empolgação e força de vontade, pretendemos jogar uma adaptação para Mutantes e Malfeitores no cenário de The Authority; para irmos pegando o gostinho, aqui um bom artigo de apresentação sobre a HQ.

The Authority – uma revolução em quadrinhos

Posted by Ben Hazrael

Perdoem-me os fãs de Liga da Justiça, Vingadores, X-Men, Novos Titãs, etc. Mas se existe um super grupo que pode ser denominado como sem frescura é o Authority. E olha que sou fã de carteirinha da Liga da Justiça (especialmente a escrita pelo genio desequilibrado do Grant Morrisson), mas em se tratando de pensar “a porra da realidade” de um universo onde homens e mulheres voam e disparam dos olhos e dos dedos raios e feixes de energia, não tem ninguém que bata o Authority em muitas coisas e uma delas é a maneira como se comportam ativamente no mundo que se encontram. E fazer política, ao modo deles, faz parte do menu diário e, talvez por isso, a ideia de revolução seja tão bem cabível ao dia a dia de bebedeira, debate político, porradaria, cultura nerd, sexo e heroismo deste grupo que considero a grande inovação das HQ de super-herois dos últimos anos.


The Authority, grupo criado por Warren Ellis e Brian Hitch

Primeiramente devo falar de sua líder, Jenny Sparks: o Espírito do Século Vinte. Uma inglesinha linda, durona e desbocada que viveu intensamente sua vida, conheceu figuras importantes do século passado, viajou para terras paralelas e, para encerrar com chave de ouro sua estada física na sua Terra, matou Deus sem pensar duas vezes. Os outros membros do Authority são Jack Hawksmoor (chamado de rei das cidades por sua ligação orgânica com todas as cidades da Terra), Engenheira (uma cientista que teve seu sangue substituído por maquinário líquido), Shen Li-Min (uma espécie de “deusa” mulher águia tibetana), Doutor (o xamã da terra, nesta versão, uma espécie de hippie bilionário usuário de entorpecentes poderosos) e a dupla Apolo (poderoso ser humano capaz de se alimentar da energia solar) & Meia Noite (sujeito bom de briga, que antes mesmo de iniciar um confronto já lutou a mesma luta um milhão de vezes em sua mente, vai encarar?). Os dois últimos (Apolo & Meia Noite) figuram como uma versão casal gay de Superman & Batman, algo que gerou muito espanto e choradeira pelos nerds mais conservadores dos Estados Unidos (e por aqui também, né?).

Apolo & Meia Noite

Mas que diabos tem de político o Authority?

Bom, muita coisa. Primeiramente o Authority se julga uma entidade superior, uma “instituição” acima das instituições. O pesadelo de todo teórico realista, como H. Morgenthau: o Authority seria uma espécie de “governo mundial sem ser governo”…ao menos no início de suas primeiras histórias. E são nelas que quero focar essa análise politológica da HQ de enorme sucesso criada e escrita por Warren Ellis e desenhada por Bryan Hitch (embora Mark Millar tenha escrito também uma fase complementar excelente da HQ, sendo desenhada por Frank Quitely).

Authority: “eles acham que não restou ninguém para salvar o mundo”

Nas primeiras páginas do encadernado Authority: sem perdão publicado pela Editora Devir, a cidade de Moscou é bombardeada por super humanos. Muita coisa é destruida. Brian Hitch não poupa, em sua arte, a reprodução de crianças, mulheres e homens e quem mais estivesse de bobeira na capital da Rússia naquele momento sendo incinerados. Nada é poupado na cidade. Logo em seguida dois funcionários da Organização das Nações Unidas encontram-se discutindo, sob o horror das cenas de destruição de Moscou, o que podem fazer para resolver aquela situação alarmante. Na dor da certeza, admitem a certa impotência que são tomados. É neste momento que surge de repente Jenny Sparks e ela lhes garante: “isso não vai acontecer de novo”.

Agora é porrada primeiro e pergunta depois.
Authority: porrada primeiro, pergunta depois

A investigação do Authority (que possui, como sede, uma Balsa que zingra a sangria que une todo o multiverso, uma das ideias mais legais de HQ que já vi) chega até a Ilha de Gamorra, não sem antes ver Londres quase ser destruida por essas bombas super humanas, mas sendo impedidos, sob um forte custo de infra-estrutura da cidade e de perdas humanas, pelos membros do Authority. E na Ilha Gamorra que impera Kaisen Gamorra, o arquiteto de toda essa destruição. E quais motivos existiriam para que o Líder político da Ilha, Kaisen Gamorra, infligesse ao mundo essa onda de destruição. Num diálogo com membros da ONU, ele não esconde o desprezo pela vida humana, na verdade, Kaisen Gamorra reconhece que sua própria ilha, sua cidade-Estado, foi erguida sob o terrorismo. E isso me faz pensar na ironia da situação de cidades sendo atingidas por líderes fundamentalistas. É, Authority, enquanto HQ, surge antes do “11 de Setembro de 2001″. E, antes da discussão sob o que fazer com terroristas que não aceitam e não admitem o diálogo, o Authority, enquanto produto da indústria cultural, se viu às turras com essa situação.

E o que pensou Jenny Sparks sob fogo cerrado de bombas super humanas na cabeça? “ah merda, quem me dera ter um cigarro!”



Contra o Terror o melhor remédio é o Authority!

Para lidar com situações de desespero, exige-se medidas desesperadas. Ao final da saga “Sob o círculo” essa é sensação. Inclusive uma sensação que se repete mais e mais vezes. Não há sentido em negociar com alguém que não deseja, de modo algum, negociar. Lembrando da “Doutrina Contra o Terror” da Administração Bush, será que a realidade copia a ficção? As ações preventivas, tortura em nome da proteção nacional, etc. O que fazer diante de um cenário como este? E os Direitos Humanos? E, no caso, os Direitos Super Humanos? Num primeiro momento, é o famoso “deixa pra lá, depois pensamos nisto”.

Para o Authority, basta jogar sua Balsa no “Palácio Presidencial” ou Quartel General de Kaisen Gamorra e encerrar de vez com o causador e perpetuados dos super atentados. E depois entregar os espólios do conflito e a tecnologia a quem, legitimamente, poderia adequadamente lidar com isto: a ONU. Mas Jenny Sparks não é “boba” e garante que ficará de olhos nesses espólios tecnológicos, em como serão utilizados e para que fins. Muito mais do que discussão e negociação política, precisamos de ação política. É o que impera no Authority.

Authority: “salvar o mundo tinha de sobrar pra alguém”

Imaginem uma terra paralela onde a cultura renascentista européia travou contato com uma cultura alienígena. E imagina que quem fez esse contato foi a realeza européia. Imaginou? Pois é. Essa é uma terra paralela onde, na saga “Alter-Naves”, o mundo passou por quatro guerras mundiais, a terra está ficando estéril devido a tantos conflitos, as populações humanas também se encontram no caminho da esterilidade, a África é um grande vazio bem como a Europa continental e a vida luta para sobreviver nos litorais do continente Americano. É um mundo que não inspira muito ânimo. E menos ainda conforme vamos descobrindo o que vaticinou essa Terra. Os híbridos humanos-alienígenas ergueram regimes altamente hierárquicos de, literalmente, sangue azul. E, a fome por reprodução e conflito gerou “campos de estupro” na Europa Continental e na China (na HQ, Jenny Sparks, que visitou essa Terra, lembra a Shen Li-Min e a Engenheira, que todos os chineses foram mortos e todas as chinesas foram escravizadas sexualmente para os soldados híbridos humanos-alienígenas com o fim da procriação). Nada melhor que a guerra para movimentar uma sociedade e sua economia, pensariam alguns. E é dessa forma que um dos vilões mais nojentos e interessantes das HQ, Régis, se interpõe no caminho de Jenny Sparks do Authority.

Não tem para Mulher Maravilha ou Jean Grey. Jenny Sparks is the best!!!
Regis - um despota castrado. 


Trágico para não dizer cômico.

Afinal, se na Terra que habitavam existia um mundo estéril que condenava sua espécie a desaparecer, nada melhor que promover uma migração, através da guerra, para outra Terra. O azar foi de que essa Terra paralela escolhida foi a do Authority. Régis é um vilão castrado. Tem coisa que estimularia mais ainda o lado ruim de um vilão do que isto? Ainda mais um que liderou estupros coletivos? Me assombrou imaginar os chamados “campos de estupro” na China (sim, toda a população masculina foi sumariamente eliminada). Pois é. Mas voltando a Régis, quem castrou o déspota foi justamente Jenny Sparks. Mais um motivo para ódio do ditador alienígena. E por isso ele lidera essa invasão de Albion (nome de sua Terra dado a sua Grã-Bretanha). Não há tempo de discutir melhores formas de se enfrentar esse alienígena e seus asseclas humanos e humanos-híbridos. É dar porrada mesmo e se sobrar tempo, perguntar.

O ritmo de histórias do Authority foi num crescente admirável. Não é qualquer HQ que consegue fazer isto. E se não há tempo para discussão política e envio de embaixadores para a paz entre os mundos, sobra dar porrada e resolver, de uma vez por todas, o problema dessa Terra onde imperam alienígenas nada responsáveis com a humanidade. O dilema é: como resolver de uma vez por todas o problema de Albion para nossa Terra?

Jenny Sparks, conversando com o Doutor, não pensa duas vezes. Atacar o cerne geográfico do problema: a Sicília, onde todo o pacto, entre a realeza e os alienígenas, começou na Renascença. Eo que fazer? A solução do Doutor é simples. “Congelar” a península itálica enquanto a Terra gira, gira e gira. A consequência pode ser imaginada pelo leitor. E a Engenheira chega a expressar, para o Doutor e para Jenny Sparks, o espanto por essa medida ditatorial.

Não sobrou muita coisa do vilão Regis, em pé, depois do Authority


Em outros momentos, o Authority vai assumindo cada vez mais a alcunha de “tutores” do mundo. Não fazia sentido terem tantos poderes sem assumir as verdadeiras responsabilidades (parafraseando o dilema de Peter Parker, o Homem Aranha) do mundo: acabar com as ditaduras sanguinolentas, os etnocídios e por ai vai. Mas que peso tem os líderes eleitos pelo povo para o Authority? Nenhum, se for combinar ou apoiar medidas que não resolvam os problemas das pessoas. E o que o Authority mais quer é isto. Como conciliar, então, a escolha de cada cidadão por seus governantes com a autoridade superior representada pelo Authority? É um problema que vai surgindo aos poucos,mas num crescente insustentável. E termina da única maneira que haveria de terminar: o Authority assumindo o controle do “governo mundial”. O problema é que, já alertavam os teóricos neorealistas das Relações Internacionais: governo mundial não se sustenta, não com as instituições e formas de organização política que temos hoje. E o Authority é fruto de sua época.

Política é negociação, sim. Mas também é conflito. E, conforme se planta, se colhe. Se existe algo na política que é perceptível é a pluralidade de interesses. E alguns são tão bem articulados que se sobressaltam sobre os outros. Interferir nos governos da Terra, democráticos ou não, resultou em sérias perdas para o Authority, mas, do ponto de vista da HQ, esse momento vai se redundando já num período pouco expressivo criativamente. O que é uma pena,até hoje lamento. Uma grata surpresa foi encontrar uma série do The Authority escrita pelo genial Grant Morrisson. E podem ter certeza, foi uma satisfação gigantesca. Acredito que Grant Morrisson seria um autor ideal para dar continuidade ao trabalho criativo de Warren Ellis e Mark Millar. E acredito que tenha sido o caso. The Authority surgiu no mundo das HQ para sacudir o marasmo dos super-heróis. E conseguiu, na minha opinião. Acho que vale a pena para o leitor e leitora que se interessa ou se interessou pela HQ dar uma lida no material. “Vale muito a pena, porra!”, diria a saudosa Jenny Sparks, o Espírito do Século Vinte.

Como aperitivo sobre essa fantástica série de história em quadrinhos deixo o link para download da série do The Authority escrita por Grant Morrisson e desenhada pelo Gene Ha. Existem algumas diferenças do período de Warren Ellis e Mark Millar, mas nada que comprometa a qualidade da história, muito ao contrário. Como já disse, vale muito a pena! Para fazer o download clique aqui.

Um comentário:

  1. Os remanescentes do Stormwatch: Authority, juntamente com Planetary, fazem parte do que há de melhor sendo publicado nas HQs atuais sobre super-heróis.

    Pena que a DC Comics vai estragar tudo no tal "DC Relaunch", onde o Universo Wild Storm (de onde os dois grupos fazem parte) vai integrar o Universo DC.

    Pode ser papo de purista, mas eu não acho que estas modificações devam rolar para melhor. Enfim, só esperando sair para ver o que vai rolar.

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