sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O estranho preconceito dos adeptos do RPG




Uma noção que sempre tive era de que os adeptos do RPG eram, em sua maioria, pessoas bem resolvidas, de mente aberta e sempre prontos para as novidades. Por muito tempo tivemos, principalmente em nossos primeiros anos de caminhada deste hobby pelo Brasil e pelo mundo, que enfrentar os rótulos de ‘estranhos’, o estereótipo de nerds recalcados e a alcunha de adoradores das forças ocultas. Não foram poucas as vezes que notamos as caras de espanto ou de desprezo de parentes, pais e amigos quando contávamos de nosso gosto pelo RPG. Toda a geração inicial do RPG no Brasil se lembra disso.


Como jogador de RPG, não que isso me faça (ou nos faça) melhor do que os outros, mas sempre dei importância para as novidades, para o inovador, para o ímpar. O mesmo sentido de inovação foi o que possibilitou que o RPG evoluísse e desenvolve-se numa prática agora sem barreiras e com tatos adeptos.


Por tudo isso acho muito estranho que dentro do próprio segmentos dos rpgístas exista tanto preconceito enrustido. Tenho percebido isso nos últimos tempos não em vários segmentos do imaginário e dos gostos que dividimos.


De uns tempos para cá a escolha de certos sistemas têm sido quase que um dogma religioso. Existem grupo que não podem nem ouvir falar deste ou daquele sistema que se armam até os dentes e partem para o combate dos ‘infiéis’. Essa atitude existia nos primórdios dos anos noventa, mas pelo menos os debates eram mais maduros e embasados em questões conceituais. O tripé GURPS-AD&D-VAMPIRO rendia bons e divertidos debates sobre o porquê de este ser melhor do que aquele e pior do que aquele outro.


Mas as redes sociais, fóruns e sites nos mostram uma atitude muito diferente de tempos para cá. Ou você curte tal sistema ou é inimigo. Ou compartilha tal opinião ou não serve para ser do ‘nosso’ grupo.


Ok, sei que isso é um reflexo da sociedade atual, mas, repetindo o que disse no início, achei que os adeptos do RPG não passariam por esse fenômeno. Não que sejamos superiores, mas por toda a nossa história.


Outra coisa que me chamou a atenção foram as reações exacerbadas de muitos ‘nerds’ de plantão e neófitos com certos conceitos de que se adonaram. Um grande exemplo disso foram as reações desse grupo sobre os zumbis.


Foi impressionante a reação deste ‘seleto’ grupo de ‘entendedores e formadores de opinião’ quando foi lançado o trailer do filme “Meu namorado é um zumbi”, dirigido por Jonathan Levine e que estreia este ano. Para quem não sabe nada sobre o filme ele é baseado na obra literária “Warn Bodies”, de Issac Marion e lançado pela editora Leya no Brasil, onde ele mostra o mundo pelos olhos de um zumbi que acaba se apaixonando por uma garota. Na minha época isso se chamava sátira. Mas para esse grupo de ‘entendedores’ é uma afronta ao conceito tão adorado e venerado por eles.


Nas redes sociais tivemos todo o tipo de comentário pejorativo mesmo sem o filme ter sido lançado. Muitos nem devem ter lido o livro. As justificativas pela desaprovação eram das mais hilárias, para não dizer deprimentes. Diziam que isso iria acabar com a visão séria sobre o assunto, que isso era uma afronta e uma gozação com aquilo que adoravam, que todos deviam boicotar o filme. Se dependesse desses entendedores revistas como “Mad” e os filmes teatralizados do grupo Monty Python nunca teriam saído do chão. Ou será que nerd não pode rir?


Outro exemplo foi com a Saga Crepúsculo e seu conceito de Vampiro. Nunca vi tantos comentários que iam do maldoso ao impublicável simplesmente por que uma autora teve a ‘audácia’ de ter uma ideia diferente do conceito ‘comum’ sobre o tema. Esquecem que, não importando a forma de usar o conceito, autoras como Stephen Meyer ou J.K. Rowling foram as responsáveis por um enorme incentivo à leitura e à criação de uma grande massa de novos leitores. Ou será que isso não importa se não for Tolkien ou George Martin?


Esses grupos de novos nerds (se é que posso chamar assim) simplesmente se adonaram de conceitos e acham que possuem sua patente. Não quero parecer defensor deste ou daquele conceito. Quero é repudiar a atitude que, se me lembro bem, foi um problema que tanto rpgístas quanto nerds sofreram muito. Eles agem como se tudo o que é publicado de literatura fantástica ou novos sistemas de RPG fossem uma das sete maravilhas do mundo. Agem como se fossem a palavra final da qualidade de qualquer tipo de produção artística. Agem como se fossem os visionários que acham que são.


De onde veio tudo isso? Muito foi de uma noção equivocada de que os ‘nerds’, e dentro deste grupo os rpgístas, fossem eruditos ou sofisticados. Sempre percebemos das vantagens e qualidades do RPG, meu tema principal, e assuntos afins para: se aprender uma nova língua (quando traduzíamos livros e mais livros importados); para incentivar leituras e pesquisa que temas que nos agradava ou que desejamos usar em nossas campanhas; para liberar a imaginação de formas que nem imaginávamos. Por isso e por muito mais nos víamos, e passamos a ser vistos pelos outros, como intelectualizados, eruditos, sofisticados e tantas outras alcunhas.


Em resumo... esses conceitos subiram à cabeça de muitos, principalmente a geração mais nova que já chegou com nosso espaço conquistado e não passou por muito do que nós tivemos de passar.


A inovação, o diferente, o novo, essas noções foram justamente as maiores e mais importantes alavancas que transformaram o que o RPG é hoje.


Essa postura equivocada deve ser repudiada e abolida. Essas errôneas concepções foram os alvos de nossa luta por muito tempo. E justamente esta luta foi o que possibilitou que desenvolvêssemos tanto o RPG, a literatura fantástica e tantos outros segmentos afins. Não podemos confundir nossa preferência com uma ditadura maniqueísta do certo e errado. Incentivar o novo sempre foi a melhor forma de chegarmos ao desenvolvimento.

Fonte: Confraria de Arton

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