terça-feira, 31 de julho de 2012

Até onde se é bom?


Um antigo regulamento pra determinados sistemas de RPG (role-playing game) eram os chamados “alinhamentos” ou “tendências”, a linha geral de ética e moral que guia as atitudes de um personagem no decorrer do jogo. Antigo porque os analistas de diversos guias de interpretação conseguiram compreender a tênue ligação entre o bem e o mal que torna um desses elementos, anexo do outro. De fato, não existe um indivíduo que siga uma tendência de forma cega, mantendo os princípios de sua conduta intactos.
Na 3.5 edição do RPG de Gary Gygax e Dave Arneson – Dungeons & Dragons, o sistema de alinhamentos chegou na estrutura mais básica, porém completa, que temos hoje como referência para distribuição de tendências. Elas se dividem em duas categorias: honra e moral.
quinn [RPG] Até onde se é bom?
A honra de um indivíduo, por exemplo, obriga que suas atitudes sejam medidas pela balança daquilo que foi instituído como código de conduta, seja por uma instituição ou por uma sociedade inteira. Quando essas características são aplicadas na tendência de um personagem, ele se torna Leal. O oposto a isso é o que chamamos de Caótico, o que não segue regras ou leis instituídas.
A moral, de forma simplista, é a reação tomada pela nossa própria natureza devido à estrutura emocional do mundo, conduzindo nossas atitudes ao que conhecemos como bem e mal. Ou seja, o sujeito que mata, domina e explora sem justificativa é mau; o que sacrifica sua autopreservação para atender o instinto gregário de ajudar o próximo, é bom.
Quando não há interesse, obrigação e disposição de seguir algum alinhamento de caráter que o identifique nas escalas acima, o personagem se torna Neutro.
Portanto, as tendências se completam da seguinte forma:


  • Leal e Bom – Típico herói que combina a Honra e a Compaixão.

  • Neutro e Bom – Aquele que faz o bem, despreocupado com a honra.

  • Caótico e Bom – Um bom coração, mas um espírito livre de imposições de vontade.

  • Leal e Neutro – Juiz, confiável e honrado, que preza pela ordem racional mais do que pelas emoções.

  • Neutro – Indeciso e despreocupado com qualquer interesse de terceiros.

  • Caótico e Neutro – Aquele que tem liberdade completa e sem restrições para o que faz.

  • Leal e Mau – É o Mal metódico e intencional que institucionaliza seus interesses.

  • Neutro e Mau – Um Mal puro, sem variações de honra e de caos.

  • Caótico e Mau – Destruidor de tudo que há de belo, impulsivo e irracional.
superhomem31 [RPG] Até onde se é bom?O conceito de alinhamentos do RPG é extremamente bem aplicado em qualquer universo, games, quadrinhos, cinema ou literatura. Entretanto, no mundo real, as tendências humanas não são tão geometricamente exatas, por exemplo:
Um personagem icônico como o Super Homem é por definição Leal e Bom, assim como um Uruk-Hai é naturalmente Caótico e Mau. As tendências são bem ajustadas pelo contexto ficcional onde eles são inseridos, portanto não se pode analisar filosoficamente a origem do mal e justificar alguma atitude de perversidade dando a entender que é apenas uma reação àquilo que foi estabelecido como bondade.
Vamos elucidar da seguinte maneira: Os Estados Unidos, por exemplo, com seus instintos patriotas e motivações altruístas recebem o status de representação daquilo que é Bom. Por outro lado, o Oriente Médio numa escala global, é ilustrado como a origem do terror ideológico, portanto Mau. Se fosse ativada uma cosmovisão permitindo que todos enxerguem os interesses que habitam por detrás das ações reportadas e associadas a cada uma dessas potências, o conceito de Bondade e Maldade cairia, dando lugar a uma grande subjetividade. Inversamente proporcional é a simplicidade que nos permite entender Darth Vader, as forças de Mordor e Esqueleto, líder de Etérnia, como agentes do Mal.
johnkennedy [RPG] Até onde se é bom?


Contudo, essa metodologia de identificação de caráter para personagens é empolgante quando buscamos aplicá-la em séries, quadrinhos, filmes e animações do nosso gosto. Não a torna perfeita, mas é bem bacana assistir Death Note e perceber que o personagem central, que as vezes torcemos à favor, é leal, porém extremamente mau.
Por Lucas Mesk, ladino formando em filosofia e taverneiro da fanpage : /trolandoD20em20 no facebook.

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