Uma opção de lazer
Para
compreendermos o título do artigo, precisamos ir a fundo no debate sobre os
jogos de interpretação de personagem como opção de lazer, como uma forma de
lazer, e esse é o objetivo aqui, advindo por inquietações que remetem a própria
superficialidade com que nós do meio RPGistico ainda vemos o mesmo. Quando nos
indagam sobre porque jogamos “isso”, a resposta vem com algo amorfo: confraternizar
com os amigos, meio de usar a imaginação, diversão; não que essas coisas não
sejam objetivos, mas somente estes não responde tudo.
Jogo e Lazer, um direito a ser conquistado para todos |
Se
entendemos o RPG como uma forma de lazer, colocamos ele na mesma estante da
televisão, do cinema, dos jogos de futebol, e das dezenas de formas de
entretenimento criados ao longo da história da humanidade. Não que forma e
conteúdo sejam idênticos, mas a essência da finalidade. O lazer é uma
necessidade humana, advindo desde épocas remotas, e diversos filósofos da antiguidade se
debruçaram sobre reflexões acerca do mesmo.
Para a todos dominar...
Essa
necessidade fica mais clara com o advento da revolução industrial. Estudiosos
como Lafargue, Russel, Huizinga, Friedmann, deram suas contribuições para as
compreensões atuais sobre a importância do lazer. Basicamente, o mesmo vem como
uma verdadeira resistência a exploração desenfreada que os trabalhadores na revolução
industrial sofreram, “O direito ao ócio”, manifesto escrito por Paul Lafargue,
conclamava o direito ao tempo de lazer contra o tempo de trabalho absurdo
(cargas horárias de 14 a 16 horas diárias).
Com
o tempo e o avanço das leis trabalhistas, a sociedade pode contemplar uma
ampliação do tempo de lazer, mas ao mesmo tempo, as opções foram se integrando
ao projeto alienante e de acomodação da burguesia. A televisão, como sabemos,
ainda é o principal instrumento “para a todos dominar e na escuridão aprisionar”.
Ser espírito livre
E
aqui fechamos o raciocínio. Em meio a um mundo caótico, onde o capitalismo
torna o trabalho meio de sobrevivência e não de desenvolvimento humano, onde o
lazer de massa se torna meio de “zumbificar” as pessoas (expressão extraída da
filosofia de J. Bogéa-rs-), os jogos de interpretação de personagem me parecem
uma grande possibilidade de resistência a dominação imbecilizante, uma forma de
conquistar o tempo livre com qualidade, um direito que põe como opção
conhecimentos que podem ser explorados em uma mesa de RPG.
Assim,
o que vai ser? Faustão no domingo e todo tipo de programa idiota ou uma sessão
de RPG com os amigos? Programas humorísticos baratos ou a leitura de um bom
material para cenário de campanha? O RPG com seus elementos artísticos e
lúdicos (jogo), é de extrema importância para o desenvolvimento humano, e
reafirmo isso quando autores renomados se referem a arte e outras atividades “não
produtivas” como algo que não serve para nada. Se referem a lógica dominante,
do trabalho e mercado como modus operantis reinante. Mas os tempos são outros,
de aventurar-se para abrir a mente e libertar o espírito.
Boa justificativa, ainda mais depois do que assisti no vlog do petitecast (no youtube) sobre o RPG formar uma Zona Autônoma Temporária e ser uma das únicas atividades de lazer realmente interativas, até mais que os video-games, que já trazem todas as possibilidades prontas de antemão, ao contrário da co-autoria narrativas dos jogos de desempenho de papéis.
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