Eu sempre gostei de livro antigos, que tem uma historia que não é contada nas palavras que ele traz, então em um dos sebos de Belém eu encontrei um livro nada convencional, mais parecia uma agenda com varias fotos, as fotos eram macabras, fotos de assassinatos, isso me assustou mas também atiçou minha curiosidade; o livro parecia falar sobre lendas de vários lugares como se fosse um tipo de manual sobrenatural ou algo do tipo, e eu comprei o livro.
Em casa eu abri ele para ler com calma, mas as primeiras paginas estavam com a tinta gasta e foi difícil de ler, e eu li as seguintes palavras:
A humanidade sempre esteve alheia aos seres e acontecimentos aqui descritos pelo simples fato de que é MELHOR não saber. Eu sei que eu vou acabar morto em uma sarjeta, e esse diário, se tiver sorte, vai acabar em uma loja de sebo de quinta, mas eu estou disposto a contar tudo o que eu sei nesse diário, para que pessoas que vivam o que eu vivi saibam, pelo mesmo, como se manter vivo e quem sabe manter outras pessoas também. Agora eu não sei por onde começar, é tanta coisa, mas eu acabei de abrir um whisky doze anos e eu ACHO que tenho a noite toda.
Bem, se temos que começar de algum lugar que seja do começo, antes de tudo isso que eu sei, antes de ter me tornado este velho bêbado e sozinho. Eu era um garoto com uns dezoito anos na década de setenta, fazia faculdade, tinha uma família, uma namorada que eu ia me casar, eu era FELIZ. Ai no outono de 1975, eu fiz uma viagem com uns amigos e minha Anne, até hoje eu ainda posso sentir o cheiro dela. Bem, na viagem nos fomos para um lugar perto da nossa cidade, só uma hora de carro.
HeHe, sabe o engraçado é que quando se é uma criança você percebe o perigo, sabe que existe olhos na escuridão, olhos de coisas que querem te matar, ou até pior. Quando eu era criança a minha turma dizia que aquela região era assombrada pelos espíritos das crianças que morreram na explosão da caldeira da siderúrgica de 1923, dizem que a explosão mandou os pedaços das vitimas até o centro, era como se chovesse sangue, as crianças andavam por ali e que o diabo as tinham pegado como pagamento por ter deixado o dono Kleon Willson II viver e sem nenhum arranhão, os mais velhos contavam que o Kleon era doente e velho e que depois do ‘acidente’ ele passou a ter mais disposição, mais vigor, como se o tempo de vida dele tivesse sido prolongado, mas as coisas que nos esperavam nas sobras das arvores daquela floresta silenciosa eram bem piores que um velho. No tempo que eu era garoto algumas pessoas costumavam sumir na região, geralmente eram mendigos e bêbados que ninguém se importava, eram somente gente sem rosto, sabe essas coisas sempre acontecem, em qualquer lugar, em qualquer época, e o pior de tudo é que todos fingem não ver.
Uma das historias que eu mais escutava era sobre a pequena Lilly, minha mãe me contava que uma garotinha não escutou a sua mãe e foi brincar na floresta, e quando escureceu ela chorou, e chamou pela mãe, mas era tarde porque ela já era da floresta, ela então passou a vagar pela floresta sem nunca encontrar uma saída, se arrependendo de não ter obedecido, de noite, se você chega-se bem perto da floresta podia ouvir o seu choro, essa historia sempre me deu medo.
Com o tempo a gente cresce e se esquece das historias, historias que te faziam alerta, que te faziam ter MEDO, eu não to falando de um medo adulto, ou até mesmo medo de morrer, na verdade o medo de morrer chega bem perto, mas não é o mesmo, esse medo é mais claro, mais vivo e de algo que vai com toda a certeza acontecer, algo que faz você mijar na cama à noite, algo que te faz impotente, a gente sabe disso quando é criança, a gente sabe por que tem esse medo. Claro, como um rapaz de dezoito ia acreditar em uma historia que aconteceu há mais de meio século, simplesmente não acreditando, mas estando alerta.
O primeiro sinal que a gente devia ter percebido foi na estrada, o meu melhor amigo desde os treze, Bill ‘gaguinho’, tava dirigindo, ta certo ele tinha bebido, tava tarde, todos com sono, mas não foi só ele, TODOS viram quando uma garotinha de maria-chiquinha atravessou a nossa frente. Bem quem ia ter certeza?! Que garotinha ia atravessar uma estrada de terra no meio do nada de noite?! Então foi mais fácil dizer que o Bill tava doidão com as cervejas do que acreditar nos próprios olhos, não demorou muito para todos falarem sobre a historia da usina, o MEDO tava ali mas as nossa mentes ‘maduras’ e ‘racionais’ não nos deixava senti-lo, pensando sobre isso esse MEDO é instintivo, talvez seja a primeira coisa que você que lê isso deva saber, siga seus INSTINTOS, por mais absurdos que eles sejam.
Quando nos chegamos ao chalé, a vam tava com o tanque cheio, e funcionando, e mesmo que desse prego a gente tinha o Josh, o cara podia concertar tudo com rodas. O chalé era da família da namorada do meu cunhado, a Judy, eles tinham comprado de um cara anônimo que vendeu por um preço abaixo do de mercado, ‘saiu quase de graça’ ela disse. Era quase uma mansão em miniatura, tudo era perfeito, o cheiro de madeira, a luz, o clima de quase inverno. Nós bebemos um pouco e depois fomos dormir, por dois motivo eu nunca me esqueci dessa noite, o primeiro foi por que eu dormi com a Anne, o segundo foram os gritos na floresta, eram umas três da madrugada quando começaram, eram terríveis, gritos de agonia, de tortura, gritos de criança, esse era o segundo sinal. Uma dica: nunca corra sem uma boa arma em direção a gritos em uma floresta no escuro, mas foi exatamente o que nos fizemos, corremos em direção dos gritos, quando achávamos que estava perto ele se distanciava, corremos a noite toda, até que amanheceu e nada nenhum rastro, sangue, pegadas. E como se todos nos pensássemos na mesma coisa, corremos em direção à cabana, até então eu não tinha percebido, mas a cabana tava muito longe, demoramos meia hora para chegar e encontrar ela vazia, nada, assim como na floresta. A vam tava lá, as portas estavam fechadas, as janelas também, e as garotas não teriam saído atrás da gente por que elas não queriam que nós saíssemos. Depois de procurar por quase um dia todo, decidimos ir para a cidade, mas adivinhe só, a vam não pegava, o Josh acabou levando um soco do Stuart, o irmão da Anne, quando ele disse que não sabia porque não tava pegando, ai tivemos a idéia de dividir dois grupos, um ficava no chalé, e o outro ia para cidade, eu e o Bill fomos para a cidade.
Eu acho que eu corri por umas três horas até que eu não tivesse mais fôlego, o Bill corria mais que eu, por isso ele correu mais uns cem metros até parar subitamente como se tivesse batido em uma parede de tijolos, já ia dizer algo como ‘não precisa me esperar, vai até onde puder que eu te alcanço’ quando ele se vira na minha direção com os olhos esbugalhados e começa a correr. ‘O que diabos esse porra tem’ eu pensei, mas quando eu vi a expressão de terror nele eu comecei a correr com ele, quando eu olhei pra traz é como se nós estivéssemos sendo seguidos por crianças, mas não eram crianças, era algo ruim, maligno, algo com um sorriso macabro, algo com olhos da escuridão e que não ia nos deixar sair. A partir daí eu nunca mais consegui olhar nos olhos de uma criança sem sentir medo.
Não sei como conseguimos chegar à cabana, eu sentia sangue nos meus pulmões, minhas pernas não tinham força, era como se os meus músculos fossem geléia.
A gente trancou tudo, pegamos umas armas, nada mais que algumas facas, e esperamos, essas coisas andavam ao redor da casa, uivando, gritando, arranhado as paredes. Ai veio os gritos das garotas...... nossa, agora eu sei que eu realmente gostava dela, eu nem consigo terminar de contar essa historia sem estar bêbado e chorar (......) continuando, eu corri feito um condenado pra fora da casa até chegar em um lugar que um dia foi uma siderúrgica, as garotas estavam amarradas nuas de costas uma para outra, elas tinha muitos cortes, pareciam letras, um ser que só dá pra descrever como múmia estava de frente pra mim com uma faca, que parecia um fêmur, as crianças demônios se aproximaram de nós fazendo uma roda, a múmia falou ‘bem vindo jantar, se não se importa eu vou comer o almoço agora’ ele começou a devorá-las vivas.......eu não quero falar sobre isso, basta saber que não conseguimos fazer nada pra ajudá-las, as bestas começaram um tipo de ritual com a gente começaram a nos cortar, dançando ao nosso redor, rindo....o meu sangue ferve toda a vez que eu me lembro. Um pouco antes de amanhecer todos tinham sumido, mas as cordas com que nos amarraram ainda estavam ali, os corte eram profundos e precisos, não podíamos nos mexer como antes, era quase impossível. Todos tinham aceitado que iam morrer, eu até QUERIA que isso acontecesse, mas ai eu meti a mão no que sobrou do meu bolso e lá estava, o anel da Anne, acho que ela colocou no meu bolso quando dormimos, ela dizia que esse anel era do avô dela, e ele recebeu da mulher dele como pedido de casamento......mas que porra eu to velho mesmos, nem consigo terminar isso sem lagrimar. Mas ai leitor você aprende a segunda lição, TUDO pode MORRER. Se você não foi otário, percebeu que eles parecem ter uma aversão ao sol, conseguimos nos livrar das cordas, mas ai saiu a ideia de matá-los, dava pra ver que o Stuart queria a mesma coisa, o Bill ia vir mesmo se eu não falasse para ir, o Josh era o que queria ir embora, mas não podia ir só, os bastardos tinham cortado o tendão de Aquiles dele, eu não o culpo, mas eu fiquei lá. Eu jurei que iria vingar as meninas pro Stu, o Bill não falou nada só acenou com a cabeça na direção da siderúrgica, aquele desgraçado tava se borrando de medo, mas mesmos assim ele foi. Tudo que a gente tinha era um par de facas de cozinha, era suicídio, mas eu acho que o sacana de Deus quis me dar uma chance, as crianças demônios não estavam lá, só o maldito, a gente se esgueirou pelos cantos, ele tava tipo dormindo, mas ele sabia que a gente tava lá. Ai vem a terceira coisas que você devem saber: nunca abaixe a GUARDA. Foi isso que o otário fez, ele queria ‘brincar com a comida’, maldito, ele conseguiu levar o Bill com ele, salve Bill um drinque pra você, grande Bill, foi ele que disse que esse porra era parecido com aqueles vampiros dos quadrinhos, ele quem teve a ideia de furar o coração, mas o maldito sabia que a gente tava ali, sabia disso e nos deu esperança só para poder tirá-la, ele veio pra cima de mim com olhos vazios, como se aquilo que ele era fosse só uma casca de um homem que uma vez esteve ali e uma voz soou dentro das ruínas da refinaria “você me vê? Eu também posso ver você!”, o Bill caiu no chão de costas por causa do susto, começou a se rastejar pra tentear fugir, eu senti que ia morrer se fica-se ali parado.
Ai uma coisa aconteceu, eu não senti mais nada, a dor dos ferimentos tinha sumido junto com o cansaço. Uma fúria cresceu dentro de mim, uma certeza surgiu na minha mente, eu ia matar o bastardo. Eu pulei em cima dele com a faca, eu não teria conseguido se não fosse o Bill, eu teria morrido se não fosse aquele maldito gago.....um brinde pra você Bill, que pulo na frente do seu amigo para segurar um demônio e foi despedaçado, mas mesmo assim não soltou ele. Eu pelo menos pude sentir o inferno inteiro carregando o maldito de volta pro seu lugar. Eu senti isso quando eu rasquei o peito da múmia, era como se existisse um vácuo dentro dele, como se tudo estivesse sendo sugado para dentro dele pra preencher o seu vazio. (continua....)
P.S. se você também curte se assustar clique aqui.
Apesar de não achar dramático colocar uma explicação quanto ao ritual, achei o texto fantástico. Eu senti muito medo mesmo.
ResponderExcluirDe verdade.
Não me assusto fácil... mas eu curti pra caramba esse conto. =)
ResponderExcluirKd a continuação? rsrsrs
É mesmo, ainda estás enrolando com essa continuação!
ResponderExcluir#MORE!
eu to inspirado, hoje vo escrever #sóbrioInfelizmente
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