sexta-feira, 17 de agosto de 2012

INTERNET, GAMES, MORTE E SOLIDÃO



 
Uma resenha muito boa que encontrei no Real Nerd e não pude deixa de posta-la no Blog.

Recentemente, um taiuanês de 18 anos morreu após permanecer 40 horas consecutivas em uma lan house jogando Diablo 3. Em fevereiro, um homem foi achado morto em Nova Taipei após jogar League of Legends por 23 horas. No ano passado, um chinês também faleceu em Pequim após jogar online por três dias seguidos. Deixando o âmbito dos games, pessoas também já morreram depois de ficarem dias conectadas em suas redes sociais, tudo regado a muito energético. O que estes fatos revelam? Vício em internet? Se a resposta é “sim”, seria um fator isolado? O que, afinal, estaria fazendo com que as pessoas transformassem algo que deveria ser algo útil e divertido em morte?


Gosto muito de games. Escrevo e leio sobre eles. Jogo todos os dias. Estou sempre por dentro de lançamentos, novidades e fatos curiosos sobre o fantástico mundo dos jogos eletrônicos. Da mesma maneira, não fico um dia sem me conectar à internet. Talvez você também seja como eu – é bem provável que sim, se estiver lendo este artigo. Entretanto, nem eu nem você nos suicidamos lentamente na frente de uma tela. Creio que o problema não está no jogo ou no instrumento de comunicação e interação social, mas uma nova ordem mundial, altamente individualista, caótica e vertiginosa, que leva os indivíduos a se distanciarem de suas caracacterísticas básicas, entre as quais está se configurar como um ser social. Estamos na era da solidão. E isso, sim, mata.


Nada é mais voraz, nada é mais devastador à alma humana do que a sensação de estar sozinho. Tudo é mais difícil, escuro e sem vida, e a opacidade do mundo torna-se a opacidade do espírito. Estar só é, na verdade, estar desprovido do sopro da vida; é ser um zumbi, caminhando lenta, descompassada e ignorantemente por um planeta totalmente morto, totalmente cadavérico, totalmente incerto e perigoso.

Todo ser humano tem a impossibilidade da ausência de carência, afirmam os psicoterapeutas. É impossível que alguém se sinta completamente preenchido, completamente abrigado, dependendo apenas de si próprio. A solidão deixa marcas mais profundas no ser do que qualquer outra coisa. A sensação de ser rejeitado, inútil e abandonado é letal; vai, aos poucos, dominando o homem, transformando-o numa massa inerte, sem vida, sem vontade de prosseguir e o guiando para um caminho que não levará a outro lugar senão ao nada. A censura íntima vai, aos poucos, sendo anulada, até que não haja outro pensamento na mente daquele que se sente só que não seja o desejo incontrolável de desaparecer, de cessar o sofrimento, da dar cabo da própria vida: sem eufemismos, de se suicidar.



Solidão e depressão caminham de mãos dadas. É fácil até mesmo para um leigo descobrir, em 90% dos casos, as causas da depressão: abandono emocional. Na verdade, o depressivo é duplamente abandonado, porque não só é jogado à margem de uma sociedade mesquinha e potencialmente exclusiva como também abandona-se a si mesmo, cedendo ao jogo da culpa e, numa espécie de julgamento reflexivo, toma o lugar simultâneo de réu, promotor e juiz e sentencia-se … algumas vezes à morte.

A alma solitária grita, clama por migalhas de carinho, de atenção, de amor. Já não pode mais, provavelmente, corresponder a este amor, porque nada lhe resta: se um dia houve em seu peito um coração, nada mais há além de um pedaço morto de qualquer carne. Consumido por múltiplas noites de choro e insônia, definha lentamente, como uma pequena flor abandonada num jardim, privada de água…


Nada, nada satisfaz de maneira mais completa o solitário do que estar junto de alguém. Nada é mais valoroso. Isso porque não fomos de maneira alguma, projetados para a solidão. Pelo contrário, somos seres dotados de uma série de habilidades, defeitos, qualidades, falhas…  E de que elas serviriam se nós as guardássemos apenas para nós mesmos? Que poço de auto-suficiência perduraria ante as tribulações da vida, que nos secam por dentro, que nos deixam absolutamente sem rumo? Que muralha de otimismo e auto-estima não cederia ante a dor, a tristeza, a morte? Entretanto, o ritmo em que vivemos nos força a sublimar nossa necessidade de conviver com pessoas. Relacionamentos são difíceis de serem cultivados, exigem tempo, que não temos. Muitas vezes, acabamos compensando esse vazio com uma socialização rarefeita, artificial e falsa. Os games e a internet são importantes e úteis; entretanto, pensar que eles podem substituir as relações humanas é algo patológico e, como tal, pode matar.

Há certos acontecimentos na nossa vida que nos fazem perceber o quanto somos fracos. Absolutamente fracos. Sem uma companhia, qualquer companhia, sem alguém com quem possamos contar, não somos nada: apenas um rótulo; apenas solidão.  Solidão que a internet e o ritmo devastador da vida podem potencializar e nos fazer esquecer de valores tão simples como o companheirismo e a amizade.

Via:Real Nerd


2 comentários:

  1. O sucesso dos Massive Multi (Lonely) Players Online e das Redes (Anti) Sociais é mais uma evidência do isolamento e intolerância dos jovens em nossos dias, embora pareça evidência do contrário. No blog Espiral Crítica falarei sobre isso, como já aponto nesse artigo: http://espiralcritica.wordpress.com/2012/08/15/niilismo-selvagem/

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  2. Está ai um ponto a destacar sobre rpg's de mesa: com mesas entre amigos, novas experiências relacionada ao jogo como participação em eventos, a aproximação pessoal pode se desenvolver. Mais um ponto interessante para nosso hobby preferido

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