sábado, 3 de março de 2012

1º versão playtest e um conto: projeto Sangue Indígena

Fim das inscrições no Faça Você Mesmo 2012, trago aqui aos interessados e curiosos, a versão 1.0 do RPG que explorará as mitologias de dezenas de povos Indígenas para criar um mundo Ciber Punk com indivíduos que podem destruir quase tudo. Link abaixo, e uma história que saiu hoje depois de algumas ideias repentinas.



Vamos a história

Um mito do futuro

Os três enviados chegaram ao local indicado no mapa que tinham em mãos. O Desana Fernando - “Hüna”, a Asteca Carla - “Yelitza” e o Guarani Conrado - “Baquara”, eram os mais jovens do Refúgio em que viviam. Foram designados para a missão que a seguir se sucederia para teste de suas habilidades em espionagem; deveriam somente observar a situação e voltarem para reportar às lideranças o ocorrido.

                O Sangue Indígena que corria nas veias de Hüna - nome dado a ele, de um dos clãs de sua etnia (esta também chamada “Umukomasã”, nascida dos 5 trovões imortais) - lhe permitia o controle de raios e trovões, bem como alguma manipulação do som, por este estar ligado aos estrondos nos céus de tempestades. Era um jovem prodígio entre os seus, tendo a parte de sua origem não indígena próxima a de ítalo-brasileiros. Os traços de juventude eram marcados mesmo em sua roupa e orgulho de seus poderes. Usava jeans na calça e na jaqueta, sempre deixando a mesma e a camiseta por debaixo com as mangas rasgadas, para evidenciar as pinturas naturais de seus braços, de onde costumava emanar seus raios.

Yelitza dominava o espírito do B’alam (Jaguar em língua Asteca), era uma guerreira nata, bela aparência vinda da mãe mexicana. Do poder que emanava do próprio corpo, costumava ter consigo a companhia de um exemplar do tal felino, feito totalmente de energia espiritual. Ela tinha não apenas pinturas que lembravam o Jaguar em seu rosto, mas partes corporais animalescas, como garras e pelos finos nos braços e pernas. Por conta disso, usava roupas grandes, blusas, calças compridas e luvas, peças de tons metálicos, advindos das partículas de aço existentes naquele tecido sintético.

Baquara era de fato um sábio, como seu nome Indígena indicava. Nascido na noite, ele dominava os conhecimentos que eram vigiados por Yaci, a Mãe Lua, das sombras que sob sua luz se formavam, até os animais noturnos. Com os pais mortos em missão antes de seus 4 anos, recentemente foi abalado pela morte da avó, humana comum que viveu a guerra nuclear e teve que abandonar a região proibida do norte, vivendo o resto de sua vida, após a formação dos refúgios, com seu neto. Aquela perda trouxe Conrado para mais próximo de Yaci, talvez o mesmo tentando se esconder entre as sombras para superar a dor da perda de sua última parente comum. Suas vestes eram totalmente negras, do sobre-tudo ao gorro que tinha em sua cabeça; a listra negra que passava em seus olhos ajudava a completar o seu tom obscuro.
            
    Naquele fim de tarde deveriam estes três observar o fim do deslocamento de um comboio de três carretas gigantes que partiram de Brasília - centro de comando do governo brasileiro – até o local conhecido como Marabá, uma cidade em destroços e abandonada, no limite entre a região habitada do sul e o norte abandonado por humanos, de um calor que só alguns poucos animais conseguiam suportar. Acompanharam por terra a viagem dos veículos, a uma distância segura para não serem vistos, correndo a uma velocidade média de 80km/h.

                No local de destino, alguns prédios e edifícios ainda de pé, em meio a destroços do que antes teria sido uma próspera e caótica cidade. Os caminhões pararam enfileirados próximos a alguns galpões, e deles soldados governamentais saiam ordenadamente, seguindo ordens de vasculharem os arredores. Os Nativos em missão estavam a observar tudo de cima de um prédio de 15 andares, acessado após alguns saltos entre as paredes de construções ao lado do mesmo.

                Carla – Yelitza teve sua atenção chamada para 3 pessoas que estavam a cerca de 500 metros dali: – “vejam, 3 moradores de rua, o que eles fazem em um lugar desses?” – Conrado - Baquara respondeu:

- “Estamos na fronteira entre o sul e o norte. Por ser pouco frequentada, fugitivos e outros poucos infelizes costumam tentar a sorte por aqui, longe dos olhos de governos. Por outro lado, costuma ser também esconderijo de grupos mercenários. Pelas vestes e condições, de fato devem ser apenas mendigos, retirantes, gente desafortunada, nesse mundo de desgraçados”.

                Aqueles 3 estavam preparando uma fogueira, pois o sol já se escondia, e se o mesmo trazia um calor infernal na maioria do globo, a noite trazia um frio congelante. Mas apesar de buscarem algum refúgio ali, soldados, ainda sem os terem percebido, já se aproximavam do local onde estavam por conta da patrulha que faziam. Fernando – Hüna alertou:

                - Eles estão se aproximando daqueles homens de rua, temos que ajudá-los! – Prontamente Baquara respondeu que tinham uma missão a ser comprida, e se fossem a ajuda daqueles, seriam descobertos. Em tons os mais baixos possíveis, entraram em uma breve discussão. Para Hüna, era inadmissível não proteger uma vida, fosse ela a mais miserável. Para Baquara, vidas nesse mundo tinham menor significado; afirmava que a elevação espiritual era o fim, e se tudo terminasse, os Indígenas viveriam felizes entre seus ancestrais. Esta posição fazia parte dos seus pensamentos sobre a busca por Ivy Marãey, a Terra sem Mal.

                Yelitza então interviu, chamando a atenção para que calassem e prestassem atenção na movimentação dos soldados. Eles atenderam comunicadores, e começaram voltar para as carretas gigantes. O vento gélido noturno já batia no alto da estrutura em que os 3 Indígenas estavam, e um silêncio profético tomou conta do ambiente...os mendigos agora estavam em um círculo, muito próximos um dos outros, quietos, aparentemente sem terem percebido a chegada dos veículos. Naqueles poucos minutos, decidiram os 3 jovens espiões que deveriam tirá-los dali.
                Baquara se deslocou em meio às sombras dos prédios, como se ele mesmo fosse uma sombra rastejando pelas paredes, vidros e destroços. Quando chegou a alguns metros dos moradores de rua, disse-lhes:

                - Homens, este lugar é perigoso; saiam imediatamente, há soldados do governo aqui, que matarão vocês se os encontrarem. – Dois deles olharam na direção da ordem, se entreolharam, enquanto o terceiro ficara calado e de rosto abaixado, escondido pelo capuz de sua roupa, comendo algo tranquilamente. No mesmo instante, gritos de dor vinham de onde a Asteca e o Desana haviam ficado. Os dois mendigos olharam com terror para os céus, e o que comia, simplesmente continuou quieto em seu lugar.

                Imediatamente Baquara olhou para trás e de um salto que se misturava com seu corpo se tornando um feixe de luz do luar, chegou ao lado de três inimigos, em forma de máquina-humanoide que mediam 10 metros de altura, e erguiam seus aliados com uma potente descarga elétrica que envolvia o corpo dos dois. As carretas se transformaram e atacaram os mesmos, enquanto o sábio da noite foi ao encontro dos mendigos. Mas ele rapidamente tratou de ajudá-los, e de um novo deslocamento pelo ar, dessa vez tomando totalmente a forma daquela luz-obscura, trespassou pelos robôs, que imediatamente largaram os seus alvos, e de suas juntas e elementos internos sangue escorreu, o sangue dos soldados que dentro estavam a controlá-los.

                Apesar do poderoso ataque, uma das carretas transformadas se estabilizou no ar rapidamente, e de um visor que existia na região que poderia ser o abdômen, uma energia começou a se concentrar e se expandir aos poucos em um campo circular. Antes que ela tocasse em algo, começou a se retrair, quando todos ali perceberam que a escuridão havia tomado conta totalmente da região, e toda a claridade da lua se concentrara ao redor daquele robô que tentava expandir sua energia destrutiva. Aquela claridade foi se fechando no alvo, até comprimi-lo de uma forma que ele sumiu em um clarão que expandiu e cessou, voltando os arredores ao normal.

                Yelitza pensou: - Isso! Um já era, não vai retornar do mundo espiritual preparado por Baquara.
                
A mesma então, lembrando-se da habilidade do Guarani em tragar inimigos ao mundo dos espíritos para lá sofrerem as devidas punições, tomou postura para a utilização de um de seus poderes. Concentrou-se e apertou o começo do ante-braço esquerdo com a mão, cerrando o punho e deixando as veias que ficavam mais em evidência a mostras, na direção dos inimigos, como normalmente um Indígena fazia, quando tinha tempo, para emanar seus poderes, diante da crença de que aquelas veias faziam contato direto com a terra. Hüna fez o mesmo. As pinturas naturais no braço deles começaram a se destacar, emanando energia mística, e as veias ficaram nervosas, como se o sangue que por ali passava estivesse a centenas de quilômetros por hora.

                A mulher começou a tirar de seu braço formas de Jaguar em uma energia amarela-laranja que passou a emanar de seu corpo todo, rapidamente criando mais de 100 daquelas mágicas criaturas. Com um aceno, elas avançaram até um dos robôs gigantes, umas se chocando e explodindo com o mesmo, outras atravessando como espíritos aquela máquina, e saindo do outro lado com um soldado. Havia ainda aquelas maiores e mais ferozes, que cravavam garras e presas no aço, e arrancavam grandes pedaços.

                O tempo que os inimigos ficaram atordoados com o ataque do Guarani nascido na noite foi suficiente para Fernando-Hüna também atacar. De seus braços, centenas de raios saíram e formaram uma tempestade elétrica nos céus, o que atingiu o outro robô várias vezes com milhares de volts, envolvendo toda sua estrutura em um azul claro. Mas o efeito não foi positivo; a máquina recebeu aquele ataque, mas de forma impressionante aos olhos do filho dos 5 trovões imortais, ela começou a se estabilizar e concentrar energia vinda da tempestade de raios, até formar um turbilhão de raios que foi lançado, atingindo 15 metros de diâmetro, levando consigo tudo pela frente, e acertando violentamente o Indígena.

                A invocadora dos Ba’alam assustou-se, e imediatamente ordenou que eles se dividissem em ataque ao outro alvo, enquanto a mesma descia rapidamente do prédio em que estava - que começava a desmoronar por conta do impacto do ataque colossal de raios – para procurar por Hüna. Ela o encontrou a 50 metros dali, pouco ferido externamente, mas inconsciente, e enquanto buscava por sinais vitais, uma voz moderada eletronicamente ecoou, bem às suas costas:

- Rendam-se. Vocês caíram na armadilha, reforços estão chegando.

                Quando a Asteca se deslocou para procurar por seu aliado atingido, perdeu concentração e dividiu forças, o que levou a rápida derrota dos seres formados de energia. Mas sem muito escutar aquela ordem, ela levantou-se e com o ódio animalesco pulsando em suas veias, diante da percepção da morte de Hüna, ela invocou um grande poder. Não mais criou outros Ba’lam. Naquele momento, invocou o próprio espírito Jaguar ancestral. Saindo das pinturas negras de seu corpo, que emanavam aquele poder ao mesmo tempo em que destruíam suas roupas e tudo que estivesse a um metro ao redor dela – com exceção do corpo de seu companheiro - um Jaguar totalmente negro, medindo 20 metros de altura, se formou. Ela tinha esta habilidade única de invocar tal ser; diziam que ela abria os céus para que ele viesse, por isso foi denominada de Yelitza, pois significa na antiga língua Asteca, “Porta do Céu”. Com um aceno, ela fez o imenso Jaguar pisar com uma das patas dianteiras sobre o robô que desferiu o golpe mortal ao Desana; em seguida, a máquina restante tentou a fuga; 3 a 4 passos largos, fugindo do espírito Jaguar, uma explosão aconteceu e a mesma parou.
              
  A sua frente, o aliado que sumira após a retração daquela energia que tentava expandir. O espírito Jaguar se fora, e onde estavam os dois Indígenas, foi onde ocorreu a explosão. De um dos braços do que retornara ao campo de batalha, fumaça se dissipava após um tiro de torpedo. Começaram a se deslocar até a direção dos de Sangue Nativo.
               
  Foi quando um estrondo passou pelo céu. Os robôs pararam e os soldados dentro deles olharam para cima. A lua foi encoberta por uma nuvem, a noite ficou mais escura, e apenas o vento se escutou, enquanto os soldados se entreolhavam, se perguntando o que teria sido aquilo. Alguns segundos depois, outro som muito maior que o anterior se escutou no céu. Quando os soldados novamente olharam a lua não estava lá; nem as estrelas. Repentinamente, dedos com centenas de metros de tamanho surgiam, como se viessem de fora para dentro, “rasgando” o céu, e abrindo uma brecha para um lugar que se podia escutar os terríveis lamentos de desespero. Todos os soldados que estavam no veículo que alvejou Yelitza, foram tragados para aquela brecha no céu, atravessando de dentro para fora, como balas, a estrutura gigante de aço em que estavam. Um tremor veio, e cessou quando a brecha se fechou. A máquina caiu no chão, ao mesmo tempo em que a Lua e as estrelas retornaram, uma brilhando mais que as outras, e logo depois caindo, caindo, até Carla-Yelitza perceber Baquara no ar, e pegá-lo, falando com ele para saber se estava bem.
            
    A carreta gigante transformada que finalmente restara, começou a se deslocar lentamente para o alto e de frente aos dois, como se preparasse uma fuga. A atenção deles se voltou para o robô caído após o fim dos seus controladores. Uma forte luz começava a sair dele, e sons seguidos e idênticos vinham dele. A Asteca e o Guarani fecharam os olhos em espera, sabendo o que era; uma bomba nuclear se armava, e eles tinham pouca força para fazer algo. Avistaram inclusive os mendigos de onde estavam, dois deles de pé olhando estupefatos o que acontecia. Pouco tempo, e o clarão veio...
             
   Os Indígenas quando deram por si, tentavam entender o porquê de não estarem mortos. Ao lado deles, dois dos mendigos sentados no chão, aparentemente esperando algo. Ao redor dali, não parecia que uma explosão nuclear teria ocorrido. Viram então o terceiro morador de rua, aquele que não deixou de ficar sentado e de cabeça baixa. Ele caminhou alguns metros e parou em frente ao robô gigante que agora estava a 5 metros de altura do chão; do nada, um fogo enorme expandiu-se instantaneamente, como se as roupas do mendigo queimassem. Da enorme máquina veio novamente uma voz modulada eletronicamente:
                - Não adianta tentar resistir, três Deformados já foram mortos, renda-se agora, mais reforços estão chegando.
                - Mas, mas...quem é ele... - perguntava-se Conrado-Baquara.
                Ao seu lado, um dos mendigos falou...
                Erguendo-se em chamas, aquela pessoa misteriosa foi ao ar, e em frente a novos dez inimigos, que chegaram com uma absurda velocidade, disse:
                - Vocês ousaram colocar a vida de meus companheiros de estrada em perigo. Por isso, serão mortos e todo será destruído.
                - Não adianta tentar resistir, três Deformados já foram mortos, renda-se agora, mais reforços estão chegando. – Repetiu a irritante voz mecânica.
                ...ELA é...er...a filha do sol...
                - Impossível. Porque também tenho reforços. – Disse a revelada mulher que pairava no ar com chamas saindo de seu corpo, enquanto abaixava o capuz de sua roupa simples de moletom. – sintam a ira de Nhanderu, pois não perdoarei aqueles que ousam causar mal aos meus parceiros de estrada!

                E naquele momento, a noite se fez dia. Um clarão repentino invadiu a região; às costas da Mulher em chamas, o sol. Dez vezes maior que o sol comum de todos os dias, mas apesar disso um calor ameno aos Indígenas, e aos dois mendigos que ali estavam. Labaredas de fogo começaram a tomar conta de todo o céu, enquanto as 10 máquinas queimavam; depois veio uma enorme luz que ofuscou a todos ali, inclusive outros sobreviventes que estavam a quilômetros do local. Em poucos segundos as carretas gigantes em forma humanoide viraram cinzas; em mais alguns, energia pura.

                Quando os dois Nativos ainda vivos e os moradores de rua recobraram a visão, isso depois de um minuto, estavam sentados no chão, ao lado da mulher misteriosa, que em frente a uma fogueira, estendia as mãos em direção ao fogo. Ofereceu aos presentes comida, dizendo para se servirem das latas que estavam ao lado da fogueira.

                - Vo..vo...você é aquela que foi exilada... – disse Conrado Baquara, olhando assombrado para a mulher, que tinha uma aparência jovem, traços indígenas de uma beleza encantadora, feroz, destrutiva como o calor do sol. Carla-Yelitza exclamou:

                Como pode! Porque não nos ajudou antes se tinha todo esse poder! A morte de Hüna é sua culpa!

Depois destas palavras, a fogueira expandiu repentinamente, ganhando mais de 5 metros de altura. A estranha levantou-se abruptamente e disse:

Calem-se! Eu nunca ajudaria vocês! E tu não pense que sabe algo sobre mim! Se aquele morreu foi por fraqueza própria, deve ser enterrado. E é uma pena que continuem envenenando novatos com mentiras, naquele maldito lugar...

- Mas...mas...dizem que tu abandonastes a jornada, por isso é indigna de permanecer entre nós... indagou Baquara.

A mulher respirou fundo e disse: - prestem atenção pois não repetirei estas palavras. Sou Moema, a aurora do universo. Sigo na Jornada. A MINHA Jornada. Retirei-me da vida nos refúgios por conta própria. Tenho objetivos muito acima do que vocês veem. Tampouco posso participar de suas pequenas brigas. Não sei de nada que possa me ferir, poderia morar no próprio aconchego do Pai Sol... por que viveria em um Refúgio? Aos pais originais obedeço e só a eles devo contas do que faço. Sigam suas Jornadas por esta Terra morta. Não posso fazer parte disso, pois nem a este mundo pertenço mais.
E depois daquelas palavras, ninguém mais teve coragem de perguntar nada naquele restante de noite.

Um comentário:

  1. Egg, o poder dela é de mais de 8 MIL! kkkkkkkkkk'
    Conto inspirador aforen. #Curti

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