terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Escolas adotam o RPG nas salas de aula

Trazemos aqui uma matéria de jornal abordando com bastante clareza e trazendo boas informações sobre o tema RPG e Educação. Não queremos fazer aqui "grandes descobertas" com isso, afinal, nem é uma matéria nova, portanto, nem um assunto novo, ao contrário dos alarmes já vistos pela blogsfera, hora colocando o RPG como algo que tem ampla dificuldade de entra na educação formal brasileira, hora colocando como o salvador da pátria, como se pudesse salvar a educação no Brasil.

Os jogos de interpretação de personagens se apresentam como uma possibilidade - entre várias outras possibilidades que existem (leitura, teatro, dança, outros variados jogos, esportes, cinema, música, etc,etc...) - para superar uma educação sem relação com a realidade, onde o aluno é visto como um depósito de conhecimento, reduzida a conteúdos sem uma reflexão e participação de si mesmo na construção dos conteúdos. Isso é uma velha questão, que não se resume a conseguir os melhores métodos, mas a uma mudança global no contexto da educação escolar, tema para um blog político ou cultural. 

Por fim, não é por decreto que veremos o RPG sendo utilizado como uma ferramenta educacional, mas pela formalização do mesmo no meio acadêmico (afinal é na universidade que se elabora o que chega nas escolas), o que galga passo a passo, como podemos ver alguns indícios na matéria abaixo, e o que certamente cresceu nos últimos 7 anos.  

“Desafios desse jogo interativo incentivam os alunos a se comunicar, a ler e a pesquisar”

Um professor dificilmente levará seus alunos para a floresta amazônica ou para as ruínas Incas no Peru. Projetá-los para a época dos bandeirantes ou para o ciclo do café em São Paulo seria impossível. Mas numa sala de aula onde o professor sabe contar histórias e propor desafios aos alunos tudo isso se torna viável – e útil no aprendizado. 

As aventuras pelo tempo e espaço saíram dos círculos de jogadores de RPG (Role Playing Game, algo como jogo de representação, em inglês) e, nas mãos de pedagogos, tornaram-se metodologia de ensino em várias escolas do País. Não há ganhadores, perdedores ou fases preestabelecidas no jogo. 

O RPG é como um faz de conta induzido. O professor faz com que a classe entre em uma história, que pode se passar em qualquer época ou lugar. Os alunos são os personagens, que devem encontrar juntos soluções para as situações em que são colocados. Nas escolas, os desafios envolvem matemática, geografia, história e português, entre outros. 

Estímulo – “Vocês estão em um ônibus indo para a escola. De repente, o veículo para. Vocês olham ao redor e vêem que foram transportados para outro lugar, pois estão no meio de uma mata. O que vocês fazem agora?” A situação acima é o início de um jogo proposto pelo professor Alfeu Macatto, que ensina educadores a usarem os recursos do RPG. 

“Os alunos têm de apresentar soluções. Eles aprendem a identificar os pontos cardeais, os tipos de vegetação e quais regiões poderiam ser aquelas, pesquisando tudo isso no próprio material escolar”, afirma Macatto, que já preparou jogos para a Fundação Roberto Marinho e a Universidade Anhembi Morumbi, além de ter dado aulas para professores de escolas como o Colégio Bandeirantes, em São Paulo, e o Clóvis Bevillacqua, em Santo André. 

“ O professor deve estar preparado para orientar as respostas e direcioná-las para o que ele quer ensinar”, diz a educadora Sônia Rodrigues, da PUC do Rio, autora do livro RPG e a Pedagogia da Imaginação (editora Bertrand Brasil), que será lançado neste mês. Sônia também vai colocar no ar, com o Instituto Telemar e a Secretaria de Ensino a Distância do Ministério da Educação, um site para difundir o método entre professores. 

O próprio ministério já havia entrado no mundo do RPG e distribuiu às escolas, no início deste ano, 420 mil kits contendo uma revista com um jogo baseado no livro Grande Sertões Veredas, de Guimarães Rosa. “Fizemos o jogo especialmente para o ministério. Cada capítulo abordava uma disciplina. Os alunos aprendiam, por exemplo, como era a geografia da região onde acontece a história”, conta Carlos Eduardo Lourenço, da editora Devir e organizador do Simpósio RPG e Educação, que será no mês que vem no Sesc Consolação. 

Quando aplicado em aula, o resultado é excelente, afirma a professora da Emef D. Pedro I Rosângela Basilli Mendes. Há dosi anos, a professora começou a utilizar uma vez por semana as histórias. “Durante a atividade, eles ouvem uns aos outros, querem participar, se sentem estimulados. A partir de uma aventura, você trabalha com as dificuldades deles.” Luiz Henrique de Queiroz, de 10 anos, concorda. “Quando comecei, não sabia ler direito. Agora sei ler e escrever porque a gente batalha para resolver as coisas no jogo. Estou mais inteligente.”

Por Simone Iwasso, jornal "O Estado de São Paulo", 7 de agosto de 2004

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