J. R. R. Tolkien é bem claro em seu discurso sobre os elementos das histórias épicas em suas criações; o bem e o mal, a tragédia, a demanda, entre outras características que dão o verdadeiro saber de uma crônica tolkieniana. Obviamente, em uma mesa de RPG de O Senhor dos Anéis, o narrador e jogadores podem optar por dar um clima diferenciado na mesma, colocando conceitos de neutralidade ou outros detalhes que existem em outros cenários medievais, mas que não necessariamente se comportam como as idéias de Tolkien; pode ser uma opção, apesar de existirem outros cenários que dão conta dessa fuga, o que seria mais recomendado, pois até mesmo detalhes de sistemas ajudam o jogo a pender para o épico de Tolkien.
Mas acima de tudo, as características mais importantes para que um grupo possa se ambientar bem no clima de jogo e cenário original de SdA é o tema das qualidades de um herói. É importante que estas fiquem muito bem claras aos jogadores que se propõem a jogar como heróis na Terra Média, pois uma não compreensão e interpretação das mesmas, pode levar uma crônica inteira montada pelo narrador por água a baixo.
A seguir, apresentamos como descrito no livro básico do SdA RPG, as qualidades de um herói Tolkieniano.
Compaixão
“(...) no fundo de seu coração havia algo que o impedia: ele
não conseguia atacar aquela coisa na poeira, abandonada, arruinada,
absolutamente desgraçada.”
- O Retorno do Rei
Os heróis compartilham dos sentimentos de outras pessoas e
se apiedam até mesmo das criaturas mais perversas e miseráveis, tais como
Gollum. Eles não matam seus inimigos injustificavelmente, mesmo quando parece
prudente fazê-lo., pois isso violaria o código dos heróis. Tanto Gandalf quanto
Frodo poupam Saruman e, embora muita maldade pudesse ter sido evitada caso não
o tivesse feito, no final, ambos reconhecem que a decisão foi acertada.
Livre arbítrio com responsabilidade
“(...) fosse [você] dez vezes mais sábio não teria o direito
de comandar a mim e aos meus em seu próprio benefício como desejavas (...)”
- Théoden, As Duas Torres
(...) o livre arbítrio é um dos conceitos mais importantes
em O Senhor dos Anéis. Todos fazem uma escolha entre o bem e o mal, e os heróis
escolhem o bem. Exercer controle sobre a vontade de outra pessoa é uma das
maiores perversidades possíveis e os heróis rejeitam completamente essa
possibilidade, sabendo que a verdadeira sabedoria está em permitir que cada
pessoa escolha seu próprio caminho.
Generosidade
“(...) então digo a você, Gimli, filho de Gloín, que suas
mãos vão se encher de ouro e apesar disso, o ouro não vai dominá-lo.”
- Galadriel, A Sociedade do Anel
Os heróis ofertam generosamente, tanto a si mesmos como a
seus bens, de acordo com a necessidade. Exemplo: Théoden dá Scadufax a Gandalf,
estimado como é esse grande cavalo, porque Gandalf merece, precisa dele
desenvolveu um laço de amizade com ele. Os heróis, normalmente adquirem glória
e riquezas em suas vidas, mas obtê-las não é sua principal motivação. Os maus e
covardes é que são gananciosos, cúpidos e invejosos, buscando frequentemente o
ouro pelo ouro.
Honestidade e Equidade
“(...) Eu não enganaria nem mesmo um orc com uma mentira
(...)”
- Faramir, As Duas Torres
Os heróis tratam as outras pessoas sempre com honestidade e
equidade. Embora possam, como Gandalf, não revelar tudo o que sabem,
simplesmente para satisfazer a curiosidade de outras pessoas, um verdadeiro
herói não evita contornar a verdade quando é chegada a hora.
Honra e Nobreza
“- Somos sinceros, nós, homens de Gondor. Raramente nos
vangloriamos, e então confirmamos nossas palavras, ou morremos na tentativa.”
- Faramir, As Duas Torres
Do mais alto senhor de Gondor ao mais ínfimo hobbit do
Condado, os verdadeiros heróis sempre demonstraram as qualidades clássicas da
nobreza e da honra. São fiéis a sua palavra, tratam as outras pessoas com a
equidade e o respeito devidos – independente da posição social – e possuem
aquela gentileza de espírito que marca o verdadeiro nobre.
Moderação
“- Legolas está certo – disse Aragorn baixinho. – Não podemos
atirar num velho desse modo, traiçoeiramente e sem desafio, qualquer que seja o
medo e a divida que tenhamos.”
- As Duas Torres
Já tocamos nesse ponto anteriormente, mas é algo que se
presta à repetição: os heróis da Terra-Média não são assassinos que fazem
picadinho de todos aqueles que os enfurecem ou ameaçam indiscriminadamente, nem
derramam sangue desnecessariamente. Matam em batalha e geralmente realizam
grandes proezas com as armas, mas isso é diferente de abater impiedosamente
qualquer pessoa ou coisa que lhes atravesse o caminho. Eles exercitam a
moderação, matando seus inimigos somente quando isso é absolutamente
necessário.
Auto-sacrifício
“- Muitas vezes precisa ser assim, Sam, quando as coisas
correm perigo: alguém tem de desistir delas, perdê-las, para que outros possam
tê-las.”
- Frodo, O Retorno do Rei
Talvez seja esse o ponto mais importante de todos: os heróis
da Terra-Média são capazes de auto-sacrifício. Entregam-se até a morte para
manter o mundo a salvo do Senhor do Escuro e de seus lacaios. Frodo, um hobbit
sem qualquer poder, viaja voluntariamente até Mordor, numa missão aparentemente
sem esperança, porque é a coisa certa a ser feita em prol de um bem maior.
Aragorn adia sua própria felicidade por décadas para ajudar a salvar os Povos
Livres da Sombra. Boromir sacrifica a própria vida para expiar suas más-ações e
salvar dois hobbits. Esses heróis não se importam com recompensas e glórias. O
cumprimento da demanda é recompensa suficiente.
Bravura
“- Por nossos esforços, o povo selvagem do Leste ainda não
avançou, e o terror de Morgul é mantido sobre controle (...)”
- Boromir, A Sociedade do Anel
Os heróis da Terra Média possuem grande valor. São
corajosos, tem a força de vontade e o espírito necessários para irem de
encontro aos temíveis servos do Senhor do Escuro e a eles se oporem. Não se
furtam ao perigo, apesar de suas próprias vidas estarem ameaçadas.
Sabedoria
“-(...) Pois mesmo os muito sábios não conseguem ver os dois
lados.”
- Gandalf, A Sociedade do Anel
Os heróis possuem sabedoria e discernimento. Entendem suas
próprias limitações e são capazes de julgar o valor e a verdade das coisas
imparcialmente, e não de acordo com seus próprios interesses e desejos frívolos.
Eles se dão conta, por exemplo, de que não ousam utilizar o Anel de Sauron,
embora seu poder pudesse permitir que eles o derrotassem.
Mto bom.
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