A palavra, o mito, o conto
No
processo de evolução do Homo Sapiens, uma ferramenta tão decisiva para sua
sobrevivência, quanto o polegar opositor, as armas e a fricção para gerar o
fogo, foi desenvolvida: a palavra. Por esta, a comunicação se ampliou e com
isso a organização social. Veio o mito como a primeira explicação dos fenômenos
da existência, e com ele o conto.
Os
primeiros homens jogaram com a narrativa, e em grupo, interpretavam seus
personagens e desenvolviam os primeiros panteões de deuses. Tinham sua “mesa”
em volta de uma fogueira ou altar, e podemos dizer que as regras se baseavam em
relacionar o conto com os fenômenos naturais que ocorriam, afinal, este era um
dos principais fins do mesmo.
Em
qualquer cultura ancestral que procuremos, esses elementos estão presentes de
diferentes modos, sejam eles rituais de agradecimento à colheita, de aceitação
da morte, de preparação à guerra. A narrativa e a personificação de personagens,
dentro de determinadas regras, são fundações sólidas para o que hoje conhecemos
como Role Playing Game.
Entender as origens
Definindo
que os próprios ritos das diversas culturas iniciadas na antiguidade eram forma
de jogo (ver: RPG e jogo)
e que ao longo das eras jogos e brincadeiras foram criados, modificados,
adaptados e evoluídos, com suas diversas formas, temos um verdadeiro mosaico cultural e artístico se desenvolvendo ao longo das eras entre diversos espaços, ora se relacionando, ora se anulando, mas sempre possibilitando novas experiências e criações aos seres humanos.
É por isso que foi possível ir do conto tribal ao xadrez, do xadrez aos demais jogos de tabuleiros, e dos mesmos ao RPG, isso simplificando muito essa escala evolutiva, cheia de idas e vindas. Qualquer avanço tecnológico que temos hoje resulta de descobertas e experiências que ao longo do tempo foram se completando e se tornando obsoletas, substituídas. Há que vermos os jogos de interpretação de personagens como uma evolução, recheada de artifícios e qualidades que resultaram de milhares de anos de aprendizado até chegar aqui.
Não queremos diminuir a importância daquela criação de 1974,
muito pelo contrário. A riqueza dela consiste exatamente em surgir da apropriação de várias criações da cultura humana. Queremos mesmo é chamar atenção
aqui sobre a profundidade que possui essa forma de lazer, se apropriando da
palavra, do conto, do jogo, da narrativa, da literatura, do teatro, e de várias categorias artísticas, lúdicas e educativas presentes em sua composição.
Por
tudo isso, é que precisamos ver e ter o RPG como um dos melhores jogos criados
por nossa espécie, graças a tantas possibilidades que possui. Mas para isso
precisamos entender suas origens, compreender o fato, e sairmos da mediocridade com que muitas vezes somos tomados ao pensarmos e falarmos sobre esse espetacular meio de cultura.
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