sábado, 8 de outubro de 2011

A realidade e a verdade trazidas pelo RPG

O seguinte artigo muito me chamou a atenção. Fala sobre uma das características básicas e de extrema eficácia das Mesas de Poder: A capacidade de sair da realidade para recriar a mesma isolando-a e voltar para aquela anterior entendendo o real e a verdade. Ficou complicado? Leia abaixo que certamente entenderão.  

Guerra do RPG
Guerra do RPG#01 - A Realidade e a Verdade
O que é real? O que é verdadeiro? O que isso tem a ver com RPG?
• Por Piatã Müller em 04 de Outubro de 2011

Desde quando somos crianças a Realidade se manifesta de distintas formas nas nossas vidas. A Realidade cresce, evolui, dança, brinca, enriquece, envelhece e caduca conforme os anos passam dentro da evolução de cada um de nós.
Para uma criança de 5 anos de idade o mundo não possui o estresse do mundo adulto e o dinheiro pode ser simplesmente contado em “quantidades de dinheiro” (um dinheiro, dois dinheiros...), seus maiores sonhos e suas maiores perspectivas de vida talvez sejam ser astronauta ou jogador de futebol e seu cotidiano encarnar um Power Ranger que luta diariamente pelo bem e pela justiça da humanidade.

Para um adolescente a Realidade se apresenta na forma de ansiedades que devem ser prontamente sanadas e de revoltas que devem ser a todo custo mantidas. Suas maiores aspirações variam dentre mulheres, carros, namorado/as e talvez, quem sabe, passar em alguma faculdade pública. Suas maiores frustrações e combates estão dentro de casa, seus maiores inimigos muitas vezes são quem mais os amam.

Quando adultos acreditamos saber qual é a verdadeira Realidade do mundo. “Sonhos não são tão fáceis de se conquistar”, “é necessário trabalhar duro para se chegar lá”, “não confie nas pessoas” e mais uma dezena de conselhos, úteis ou não, surgirão das experiências adquiridas no universo da Realidade, que faz a nossa história como sociedade girar. Os sonhos certamente serão mais concretos, e dificilmente manterão a amplitude jovial que havia anteriormente. E suas preocupações certamente serão muito claras e diretas, como cuidar da empresa, garantir a comida para a família ou lidar com os problemas da causa pelo qual ele luta (se é que ainda luta por alguma).

E quando envelhecemos muitas vezes percebemos que a Realidade das coisas não é bem aquilo que achamos que era durante toda a nossa vida. Percebemos que certas coisas não são tão importantes, e que outras, no entanto, devem ser mais valorizadas. O nosso porte físico já não terá a mesma importância e a crise mundial financeira ou política apenas se somará sem alarde a todas as outras já vividas. Muito mais importante se fará a dor nas costas.

A questão onde quero chegar é... Qual dessas é a verdadeira Realidade? Será mesmo que tudo o que vemos e ouvimos faz parte da Realidade?

Quando éramos crianças não víamos as coisas da mesma maneira, ainda que muitas delas passassem diariamente diante dos nossos olhos. Simplesmente não tínhamos o entendimento necessário para concebê-las, por isso era como se não existissem. Pois então... será que nesse exato momento você tem o entendimento necessário para conceber qual é A Realidade? Ou será que ela simplesmente está adaptada ao que você é capaz de ver?

Perceba que a Realidade termina por estar muito mais relacionada ao que nós acreditamos do que ao que realmente ela É. Se mantivermos isso em mente, como poderemos dizer que o mundo fantástico no qual o Joãzinho luta todos os dias é menos real do que o nosso? Muitas vezes ele até mesmo está mais envolvido no seu mundo do que nós com o nosso. Certamente ele acredita mais no mundo dele do que nós no nosso!

Por esse motivo acho importante diferenciarmos o conceito de Realidade do de Verdade. A Verdade, seja qual for, é uma só. E sempre vai ser. Essa Verdade pode se expressar através de diferentes Realidades, concebidas de diferentes formas. A Verdade por trás de Beethoven e Shakespeare, certamente, era a mesma. No entanto, conseguiram expressá-la e concebê-la de diferentes formas. A Verdade por trás do universo não é diferente para nós, para uma criança ou para um ancião, mas cada um a conceberá de uma maneira diferente, e interpretará isso como sendo a sua Realidade.

Vocês devem estar se perguntando... “Ta... mas o que isso tem a ver com RPG?”. E eu respondo: “Tudo”.

Desafio-os a pensarem com um pouco mais de profundidade.

Se essa Verdade existe, e está em algum lugar, e continuamente se expressa de diferentes formas, podemos então expressá-la através do RPG. E digo mais, enquanto cada um dos jogadores estiver vivenciando aquele mundo criado, seja qual for, ninguém poderá dizer que é menos verdadeiro do que o “dos adultos”.

Cuidado, não estou dizendo que agora devemos confundir RPG com Realidade. O João nunca vai ser o Frodo, nem nenhum dos personagens que ele criou com fichas e dados. Não devemos acreditar no jogo, a tal ponto, de achar que agora a vida é um jogo de interpretação. Mas podemos, sim, trazer as experiências vividas nesse “mundo de mentira”, como aprendizados e vivências incríveis, que não seriam possíveis de outra forma. E agora, agir de acordo a esses aprendizados, tornando-os reais e concretos.

Desculpem se fui longe demais, mas isso significa que podemos entender como certas civilizações foram, podemos chegar a entender como certas pessoas de diferentes épocas pensavam, podemos chegar a conceber os valores que outras culturas tinham e inclusive, mudar para melhor um pouco de nós mesmos, a partir de uma simples mesa de RPG, com alguns dados, pizza fria, café derramado, livros zelosamente cuidados e muita diversão.

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